Você já deve ter se deparado inúmeras vezes com a seguinte fala: exercício físico faz bem para o corpo e para a mente. Certo?
Pois é, mas e no caso da ansiedade, como se dá esta relação? Qual a influência da prática de exercícios físicos no controle dos sintomas de ansiedade?
Em minha atuação como psicóloga clínica, identifico com frequência duas situações em que a ansiedade e os exercícios físicos se relacionam:
- Pessoas que ficam mais agitadas após praticarem exercícios físicos, apresentando principalmente dificuldade para dormir;
- Pessoas que percebem a prática de exercícios físicos como uma grande aliada no controle da ansiedade, obtendo sensações de relaxamento e melhora no sono.
Para falar sobre estas questões, convidei uma das pessoas mais influentes e respeitadas na área da saúde do país: Marcio Atalla.
Marcio é Professor de Educação Física, com especialização em Treinamento de Alto Rendimento e pós-graduação em Nutrição pela USP.
Em 2011, Marcio criou o quadro Medida Certa no Programa Fantástico, da Rede Globo, que voltou ao ar em 2015 com uma edição especial, em que um condomínio inteiro mudou seu estilo de vida e melhorou a saúde. Em 2016, está novamente no Programa Fantástico.
Não preciso nem falar que Marcio entende (MUITO) de saúde e bem-estar.
Portanto, aproveitem o que ele tem a nos ensinar!
Natália Beatriz Rigatti
1. Marcio, em primeiro lugar, quero lhe dizer que admiro muito seu trabalho, os projetos que vem desenvolvendo e o fato de pensar na saúde de forma integral. Poderia nos contar um pouco sobre o principal objetivo do seu trabalho?
Meu trabalho é convencer as pessoas de que um pouco de movimento por dia, todos os dias, muda muito a saúde e a qualidade de vida.
E mais: o que parece ser uma atitude extremamente individualista não é, porque uma vez que nos tornamos pessoas mais saudáveis e levamos isso aos familiares e amigos, nos tornamos uma sociedade mais saudável e que, por consequência, gasta menos com medicamentos, hospitais, etc..
Por isso, devemos investir na saúde preventiva mais barata e eficiente que temos, que é o movimento.
2. Como surgiu a ideia de fazer pós-graduação em Nutrição? Como ocorre a integração da Educação Física e da Nutrição durante seu trabalho?
Uma é complemento da outra, na verdade.
Quando pensamos em nos movimentar, fazer atividade física de maneira regular, começamos a mudar várias coisas em nossas vidas, incluindo muitos de nosso hábitos.
Como consequência, percebemos a importância de ter uma alimentação rica em nutrientes, que é fundamental para manter o corpo com disposição e saúde.
3. Sabe-se que atletas de alto nível enfrentam horas diárias de dedicação e que seu estado emocional é um aspecto que pode interferir diretamente em seu rendimento. Qual o maior desafio que você percebe na preparação destes atletas, especificamente no que diz respeito ao controle dos níveis de ansiedade?
Atletas de alto rendimento precisam contar com apoio de especialistas nessa área.
Mas claro que treinamos a confiança do atleta na parte física também. Isso ocorre a partir de exercícios educativos e repetições que provocam maior confiança e automatizam cada vez mais os movimentos.
As situações de estresse e ansiedade também tentamos simular nos treinos. Esta vivência ajuda bastante em todas as situações de vida.
4. Tomando por base seu conhecimento e experiência na área, como você percebe que o exercício físico pode auxiliar no controle de sintomas de ansiedade? Aqui não estou me referindo a atletas, mas pessoas de forma geral, que apresentam níveis de ansiedade que lhes provoca algum tipo de prejuízo no dia a dia.
O exercício físico regular não é excelente apenas para o físico.
Nossa saúde mental melhora muito.
Melhora o humor, o raciocínio, as funções cognitivas, e sobretudo: a autoestima, depressão e a ansiedade.
Tudo cientificamente comprovado, porque ocorre de forma orgânica mesmo, com secreção de alguns hormônios e neurotransmissores.
5. Por outro lado, como mencionei na introdução desta entrevista, existem pessoas que se percebem mais agitadas após praticarem exercícios físicos, apresentando inclusive dificuldade para dormir. Esta lógica é válida? Existem cuidados que devem ser tomados com a prática de exercícios para evitar estes efeitos?
O que pode acontecer é uma liberação de adrenalina que ocorre normalmente durante a atividade física, que se feita próximo à hora de dormir, pode atrapalhar o sono.
Por isso, não são recomendadas atividades físicas intensas entre 2 e 3 horas antes da hora de deitar.
Em caso de atletas de alto rendimento que participam de disputas à noite, isso acontece bastante, e o atleta só consegue dormir horas depois, pelo tempo que o corpo precisa para baixar a adrenalina e voltar à calma.